domingo, 10 de agosto de 2008


Minha itinerância docente...

Contar é muito dificultoso. Não pelos anos que já se passaram. Mas pela astúcia que tem certas coisas passadas de fazer balance, de se remexerem dos lugares. A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos; uns com os outros acho que nem se misturam.Contar seguindo, alinhavando, só mesmo sendo coisas de rasa importância (...) Tem horas antigas que ficaram muito mais perto da gente do que outras de recente data. O senhor sabe; e se sabe, me entende. Toda saudade é uma espécie de velhice.

João Guimarães Rosa
(Meus pais)
Minhas fontes pré- profissionais e profissionais.

A atividade docente sempre esteve presente na minha vida. Nascida na cidade de Jequié, minha família residia no distrito de Oriente Novo, onde buscávamos, através do comércio, agropecuária e das atividades docentes uma vida mais digna para a nossa família. Portanto, desde criança, presenciei conversas entre minha mãe e tia, sobre as atividades docentes e as dificuldades encontradas na profissão do professor, desde aquelas referentes às questões mais objetivas da profissão como salário, espaço físico adequado para a realização das atividades docentes, até aquelas questões de ordem mais subjetiva, relacionadas ao compromisso com a profissão, o desejo de buscar sempre melhorias para a educação. Em busca de uma vida mais digna e o acesso a uma educação de melhor qualidade, fomos morar na cidade de Jequié, onde concluí o ensino primário, ginasial e o curso do magistério no Instituto de Educação Régis Pacheco. O que marcou a minha formação no curso normal foi, sem dúvida, a influência da psicologia comportamental e a tecnologia educacional, que davam enfoque à dimensão técnica no nosso processo formativo, e concebiam o docente como o grande organizador das atividades didáticas, que sendo planejadas de forma rigorosa, iriam garantir resultados eficientes. Dessa forma, na sala de aula reproduzíamos as orientações vivenciadas no curso normal, nos preocupando com os detalhes dos planos de aula, as técnicas a serem desenvolvidas, a disciplina dos alunos e a transmissão eficaz dos conteúdos.
(FORMATURA DE PEDAGOGIA - 1994 UESC- ITABUNA)


As primeiras experiências de formação e as lacunas observadas no currículo dos cursos.



Formada no magistério, comecei a lecionar numa pequena escola particular em Jequié, onde igualmente o foco do trabalho docente era a transmissão do conhecimento e a busca de estratégias de trabalho que pudessem garantir a aquisição dos conteúdos pelos educandos. Desmotivada e inquieta com esses pressupostos educacionais pautados numa concepção “bancária” de educação, fui cursar em Itabuna a licenciatura em Pedagogia, desejosa de encontrar um maior aprofundamento teórico e novas referências para a minha prática pedagógica.
Retorno a Jequié e passo a lecionar no Instituto de Educação Régis Pacheco e, posteriormente, na Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, onde me deparo com dois grandes enfoques na formação dos professores: um mais teórico, dando ênfase aos fundamentos da educação, e outro mais voltado às discussões acerca das questões didáticas pedagógicas. Como professora de estágio, vivencio a dicotomia desses enfoques, literalmente “na pele”, haja vista que as alunas, diante da complexidade da sala de aula, não conseguiam articular as discussões teóricas travadas ao longo do curso, com a emergência das questões que afloravam na sala de aula.Passo então a perceber que as disciplinas teóricas, por estarem longe do ambiente de trabalho do professor, contribuem muito pouco para as reflexões sobre a prática pedagógica, assim como as disciplinas com um enfoque mais metodológico, quando trabalhadas de forma desarticulada da prática docente e também das discussões teóricas, pouco podem contribuir com a formação do futuro profissional. A questão é que, quando emergem os dilemas da sala de aula, os referencias teóricos se mostram insuficientes diante da complexidade da prática, necessitando-se de novos conhecimentos. Como o processo formativo era totalmente dicotomizado, o diálogo acontecia de forma precária, pois a teoria e a prática ocupavam lugares diferentes.Simultaneamente a essas experiências no ensino presencial, e em sintonia com as reformas educativas da década de 90, tais como: elaboração do currículo básico nacional, avaliação nacional das escolas, incentivo à formação de professores e a educação a distância, é que passo a integrar, como docente, um programa de formação de professores a distância do Ministério de Educação e Cultura (MEC), o Programa de Formação de Professores em Exercício (PROFORMAÇÃO), um curso de nível médio à distância, de modalidade normal, dirigido aos professores que, sem formação específica, encontram-se lecionando nas quatro primeiras séries do ensino fundamental e nas classes de alfabetização das redes públicas das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Conhecendo o potencial e as lacunas das Tecnologias da Informação e Comunicação

Vivendo nesse cenário, no ano de 2004, fui selecionada para participar do Curso de Especialização em Planejamento e Gestão de Sistemas de Educação à Distância, promovido pela Universidade Estadual da Bahia e Secretaria de Educação do Estado da Bahia, cujo objetivo era desenvolver e divulgar experiências nessa área, que possibilitassem o domínio teórico e pedagógico, capaz de gerar soluções e apontar caminhos para a superação das dificuldades de formação de professores no estado da Bahia, a fim de preparar pessoal técnico docente e administrativo para gestar e planejar sistemas de ensino em EAD no nosso estado.Como trabalho monográfico, escrevi sobre as implicações da vivência no ambiente e-proinfo na formação de gestores no estado da Bahia, refleti e aprofundei as discussões sobre a educação online, analisei os fundamentos da interatividade propostos por Silva (2002) e, de forma crítica, discuti as interfaces utilizadas no ambiente durante o curso de especialização.Fui então percebendo a plasticidade do digital e seu potencial de reformulação livre da mensagem, ao abrir infinitas perspectivas de trabalho na rede, bem como a subutilização desse espaço no curso, utilizado apenas para a disponibilização de conteúdos pelo docente e espaço de informações burocráticas da coordenação. Essas inquietações observadas e articuladas com as discussões teóricas que fui tecendo na monografia, me levaram a refletir sobre os desafios da docência nesse cenário, contrapondo-se a uma perspectiva comunicacional unilateral, em que a emissão separada da recepção ressalta o papel do aluno como simples espectador e ressalta o papel do professor como o “dono da verdade” e detentor do saber.