domingo, 28 de fevereiro de 2010

Pedagogia

Currículo dos cursos de Pedagogia não prepara para a realidade escolar

O currículo dos cursos de Pedagogia, principal entrada na profissão, não contempla o "quê" e o "como" ensinar nem prepara para a realidade escolar, revela pesquisa da Fundação Carlos Chagas para NOVA ESCOLA

O professor, por excelência, é o profissional que sabe ensinar e tem domínio sobre os conteúdos que leciona. Aparentemente óbvios, esses preceitos infelizmente não se confirmam no dia-a-dia, e a maior causa disso é a formação inicial. O curso de Pedagogia, que deveria garantir a competência de quem leciona na Educação Infantil e nas primeiras séries do Ensino Fundamental, forma profissionais despreparados para planejar, ensinar e avaliar. O resultado é a péssima qualidade da Educação no país.

Um curso que tem como missão formar profissionais tão diversos como professores de diferentes segmentos, além de coordenadores pedagógicos, gestores, supervisores de ensino e pesquisadores, não tem como prioridade no currículo o "quê" e o "como" ensinar determinadas faixas etárias. Segundo a pesquisa realizada pela Fundação Carlos Chagas para NOVA ESCOLA, apenas 28% das disciplinas dos cursos ministrados em todo o país se referem à formação profissional específica - 20,5% a metodologias e práticas de ensino e 7,5% a conteúdos.

"Muitos dos futuros educadores não dominam esses conteúdos, e cabe à faculdade considerar os conhecimentos dos ingressantes e suprir essas lacunas", diz Gisela Wajskop, doutora em Educação e diretora do Instituto Superior de Educação de São Paulo - Singularidades. Na Argentina, um país reconhecido por desenvolver de forma articulada a investigação didática e projetos de formação docente, as disciplinas do currículo voltadas a "o quê" e "como" ensinar correspondem a 65,2% do currículo do curso.

No Brasil, grande parte da carga de matérias da Pedagogia - 42% do total - é voltada para o funcionamento dos sistemas educacionais e os fundamentos da Educação (História, Psicologia da Educação etc.). Uma boa base teórica em humanidades é fundamental, mas não o suficiente (leia os depoimentos nesta página e nas seguintes). "A graduação deve ajudar os professores a se servir de conhecimentos teóricos para ref letir sobre o cotidiano - o que não acontece hoje", afirma Elisabete Monteiro, da Universidade do Estado da Bahia (Uneb).

Faltaram didáticas

Elaine Oliveira, professora da rede municipal de Salvador, BA. Foto: Fernando Vivas
Elaine Oliveira, professora da rede municipal de Salvador, BA

Quando começou a trabalhar com uma turma de 1ª série em Salvador, há dez anos, Elaine Oliveira não estava preparada para essa difícil tarefa. Apesar de ter estudado as hipóteses de escrita, ela não sabia o que fazer com a informação quando se deparava com os textos escritos pelas crianças. "Não tinha claro quais atividades propor para que cada uma delas avançasse", conta. " Ficava frustrada por não conseguir usar em sala de aula conhecimentos tão importantes para o trabalho com essa fase." Nas aulas de Matemática, o problema era igualmente grave. Além da didática, conteúdos da disciplina, como o trabalho com sistemas de numeração, também ficaram de fora das aulas durante a graduação.

"Não aprendi os conteúdos de Matemática nem como alfabetizar."

2 comentários:

Anônimo disse...

É verdade professora, a realidade escolar é dura e muito triste.E nos vemos neste emaranhado de obstáculos tentando mudar de alguma forma essa educação. Educação essa que não consegue preparar ninguém para enfrentar a real situação das escolas. Alunos que não sentem desejo de irem as escolas, profissionais, na maioria, que vão só para cumprir a sua carga horária, um currículo que não foi e não está voltado para as necessidades reais dos alunos, governantes que só querem ver as salas cheias para que o Brasil consiga a nota 6 no "Rank" e a qualidade de ensino a cada dia piorando. Como poderemos contribuir para amenizar a situação atual da nossa Educação?
Bjos.
Eliana

Eliana disse...

É verdade professora, a realidade escolar é dura e muito triste.E nos vemos neste emaranhado de obstáculos tentando mudar de alguma forma essa educação. Educação essa que não consegue preparar ninguém para enfrentar a real situação das escolas. Alunos que não sentem desejo de irem as escolas, profissionais, na maioria, que vão só para cumprir a sua carga horária, um currículo que não foi e não está voltado para as necessidades reais dos alunos, governantes que só querem ver as salas cheias para que o Brasil consiga a nota 6 no "Rank" e a qualidade de ensino a cada dia piorando. Como poderemos contribuir para amenizar a situação atual da nossa Educação?
Bjos.
Eliana